Fevereiro Laranja: mês de conscientização na Prevenção e Orientação Contra a Leucemia 1

 

No mês de fevereiro é lembrado o Dia Mundial do Câncer, e a Secretaria da Saúde (Sesa) orienta a população sobre os primeiros sinais da Leucemia, tipo de câncer que quando diagnosticado e tratado logo no início, aumenta a possibilidade de cura. Nesse contexto, a campanha “Fevereiro Laranja” tem atenção voltada à disseminação de informações sobre a leucemia, tipo de câncer dos glóbulos brancos, geralmente de origem desconhecida e que tem como característica a proliferação excessiva e desordenada de células jovens que substituem as células sanguíneas normais na medula óssea.

Existem mais de 12 tipos de leucemia, podendo acometer indivíduos de todas as idades, com subtipos dominantes dependendo da idade. Em relação à velocidade de proliferação, elas se dividem em agudas e crônicas. Nos adultos é mais frequente a forma crônica, de instalação mais insidiosa, com sintomas mais brandos que se instalam lentamente por meses ou anos. De todos os tipos de câncer que acometem crianças e adolescentes, as leucemias são os mais frequentes (30%), sendo 95% leucemias agudas, cujos sinais e sintomas da proliferação de células malignas e a consequente falência medular surgem progressivamente cerca de 2 a 4 semanas antes do diagnóstico.

Os sintomas mais frequentemente incluem fadiga, palidez, infecções recorrentes, hematomas e sangramentos inexplicáveis, febre, vômitos, além de dores ósseas, falta de apetite contínua, e perda de peso sem motivo aparente.

As causas exatas da leucemia não são totalmente compreendidas, mas alguns fatores de risco identificados incluem a predisposição genética, o tabagismo, a exposição a certos produtos químicos, como benzeno e a exposição a altos níveis de radiação.

Diagnóstico

O diagnóstico é suspeitado pelo quadro clínico e exame de sangue simples (hemograma). A confirmação é dada por exames da medula óssea, procedimento relativamente simples que compreende o aspirado de células da medula óssea por agulha específica, feito pelo médico com anestesia local (adultos) ou sedação em crianças e adolescentes. O material coletado da medula óssea é submetido a vários exames para a confirmação, definição do subgrupo e linhagem das células da leucemia. Outros exames de laboratório, raio x, ultrassonografia, além do exame físico também complementam o diagnóstico e são fundamentais para determinar o estágio da doença e a programação do tratamento.

Tratamentos

O tratamento varia de paciente para paciente, e o prognóstico depende do estágio da doença, do tipo específico, além de outros fatores individuais. Entretanto, a detecção precoce e o tratamento adequado são fundamentais para melhorar as chances de cura.

O tratamento das leucemias é uma área em constante renovação, tendo a quimioterapia como base. Tratamentos inovadores com menor grau de toxicidade, dirigidos para alvos específicos surgem como complementos da quimioterapia convencional. É o caso da imunoterapia. Exemplo deste tipo de terapia é o uso do Blinatumomabe, recentemente aprovado para uso no SUS em LLA B recidivada e que se constitui em um marco no tratamento destas leucemias, oferecendo chances de cura, outrora inexistentes para algumas crianças. Ainda nesta linha, a associação dos inibidores de tirosina-quinase (Imatinib, Dasatinib) com a quimioterapia nas últimas 2 décadas representa um marco na evolução no tratamento de alguns subtipos de leucemia.

O transplante de células tronco hematopoiéticas -TCTH faz parte do tratamento padrão para determinados casos. O transplante autólogo de células T-CAR constitui uma alternativa promissora, mas ainda incipiente no Brasil.

A radioterapia já teve muita importância na associação com a quimioterapia, mas atualmente ela não faz mais parte dos protocolos atuais de tratamento de leucemias em crianças e adolescentes. Isto é reflexo do aprimoramento destes protocolos, que visam, não somente à cura, mas também à minimização das sequelas a longo prazo.

O tratamento das leucemias não se encerra somente com a terapia antineoplásica. A maior causa de morbimortalidade das crianças e adolescentes em tratamento de LLA são as infecções. Sendo causa evitável, é imperativo que medidas de prevenção e de tratamento imediato destas intercorrências sejam adotadas por todos os profissionais da instituição. Medicamentos de suporte para manejo das emergências oncológicas fazem parte do arsenal terapêutico necessário para a cura, entre eles, mas não somente, antibióticos de amplo espectro, antieméticos, opioides, hemoderivados, estimuladores de colônias de granulócitos.

Segundo a médica oncologista pediatra, Glaucia Perini Zouain Figueiredo, do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória (Hinsg), localizado em Vitória, por cerca de três anos, o paciente e sua família passam a viver em função do tratamento e os apoios social e emocional são fundamentais para o bom desfecho. “Os investimentos na vida futura quando se trata de crianças e adolescentes devem ser mantidos e a continuação dos estudos é encorajada ao longo do tratamento. Os prazos entre os blocos de quimioterapia precisam ser respeitados com a garantia de vagas para hospitalização, do contrário, o risco da recidiva aumenta consideravelmente. A minimização do impacto dos efeitos tardios deve nortear a abordagem da equipe multidisciplinar por meio de medidas preventivas e de reabilitação em todos os aspectos da vida do indivíduo e de seus cuidadores”, explica.

 

Dados no Espírito Santo

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os dados preliminares para o ano de 2023 são de 8 mil novos casos, exceto pele não melanoma. Desses, 4.640 atingirão os homens com a predominância no câncer de próstata, com 1.740 casos. Nas mulheres, a incidência será de 3.360 novos casos, sendo o câncer de mama feminina o mais incidente nessa população, com 900 casos. Os cânceres de cólon e reto apresentam 610 casos, em que 290 casos atingirão a população masculina e 320, a população feminina.  Quanto à leucemia, 210 casos novos foram diagnosticados em 2023, sendo 110 casos em homens e 100 casos em mulheres.

Em relação aos óbitos por câncer, em 2022 foram 4.628 óbitos, sendo 2.522 em homens e 2.106 óbitos em mulheres. Já em 2023, foram registrados 4.548 óbitos, sendo 2.453 óbitos em homens e 2.095 em mulheres.

Câncer Infantojuvenil

O Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória (Hinsg), em Vitória, é referência para o diagnóstico e tratamento do câncer infantojuvenil, ele recebe pacientes de todo o Espírito Santo e parte da Bahia. Anualmente, são admitidos cerca de 100 pacientes acometidos por câncer, tendo as leucemias representando 30% dos casos.

De acordo com a médica Glaucia Perini Zouain, o câncer em crianças e adolescentes não é passível de prevenção, restando o diagnóstico precoce, quando a doença ainda está em fases iniciais e o tratamento pode ser mais brando com menos sequelas e maiores chances de cura. “Em relação às leucemias, a criança pode abrir o quadro com palidez, manchas roxas, febre, sangramentos inexplicados, dores no corpo, anorexia, irritabilidade. Os sinais e sintomas costumam ser, inicialmente mais brandos e isolados, mas tendem a se associar com os passar dos dias, daí a importância de os pais ou responsáveis reconhecerem os sinais, procurarem imediatamente a Unidade Básica de Saúde (UBS) e relatarem ao pediatra a recorrência dos sintomas”, informa.

Além disso, aponta a pediatra, nem sempre, numa primeira consulta, o médico vai ter dados suficientes para pensar em doença com tamanha gravidade, cabendo aos pais, retornarem ao médico caso os sintomas persistam ou outros apareçam.

O tipo de Leucemia mais comum nas crianças é a Leucemia Linfoide Aguda (LLA), que compreende cerca de 75% das leucemias na faixa etária pediátrica, tem pico de incidência entre 1 e 4 anos de idade. Os sinais e sintomas da proliferação de células malignas e a consequente falência medular surgem progressivamente cerca de 2 a 4 semanas antes do diagnóstico, seu sintomas é muito comum a outras doenças.

Transplante de Medula óssea

O transplante de medula óssea (TMO) é uma alternativa indicada para o tratamento de doenças relacionadas com a fabricação de células do sangue e com deficiências no sistema imunológico. Pacientes com leucemias originárias das células da medula óssea, linfomas, doenças originadas do sistema imune em geral, dos gânglios e do baço, e anemias graves estão entre os principais beneficiados com o transplante. Entretanto para menores de 16 anos, o procedimento não é realizado no Espírito Santo.

“Quando há indicação do TMO em pacientes abaixo de 16 anos, eles realizam o procedimento fora do o Estado via Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Nos últimos anos alguns centros transplantadores do Estado de São Paulo têm recebido nossos pacientes. Desde o final de 2022, hospitais do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) aceitaram todos os pacientes do Hinsg, com indicação de TMO”, disse Glaucia Perini Zouain.

Em 2022, foram realizados 85 transplantes de medula óssea no Espírito Santo. Já em 2023, foram realizados nove transplantes alogêncios (medula de um doador compatível) e 65 autólogos (medula vêm da mesma pessoa que fará o transplante).

Doação de medula Óssea

Quando é necessário realizar o transplante de medula óssea em um paciente, a chance de encontrar um doador compatível com o receptor é de 1 para 100 mil pessoas. Quando o paciente não encontra o doador ideal dentro da própria família, é necessário buscar alternativas nos registros de doadores voluntários, por isso é tão importante que haja o maior número de doadores cadastrados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

A diretora técnica do Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo (Hemoes), Soraya Almeida, chama atenção para o cadastro para a doação de medula óssea no Estado.

“Para realizar o cadastramento, é necessário a pessoa ter entre 18 e 35 anos e 6 meses, e comparecer ao Hemoes Vitória ou a um Hemocentro Regional portando um documento oficial com foto. Não é necessário agendar, nem estar em jejum. Estando saudável, qualquer pessoa dentro da faixa etária poderá se cadastrar”, pontua Soraya Almeida.

Após o cadastro, o doador é encaminhado para a sala de coleta, onde será retirada uma amostra de sangue do braço, para que possa ser feito o exame de compatibilidade e inseri-lo no sistema Redome.

O Espirito Santo tem 178.612 pessoas cadastradas para doação de medula óssea. (Conforme dados atualizados do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea Redome).

O cadastro de receptores também é nacional, pelo Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme). Estes dois cadastros cruzam informações para busca de doadores e receptores compatíveis. O voluntário pode ser chamado para efetuar a doação com até 60 anos de idade.

O Hemocentro fica na Avenida Marechal Campos, 1.468, Maruípe, Vitória.

Para mais informações sobre como se tornar um doador de medula óssea, o cidadão pode acessar os sites: https://redome.inca.gov.br/doador/como-se-tornar-um-doador e https://hemoes.es.gov.br/medula-ossea

Atuação dos residentes em Cuidados Paliativos no tratamento da leucemia

O Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória (Hinsg), o Infantil de Vitória, conta também com uma equipe importante no dia a dia do tratamento das crianças com leucemia, que é formada pelos residentes em Cuidados Paliativos, da Residência Multiprofissional, ofertada pelo Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi).

De acordo com a fonoaudióloga Amanda Rezende, o grupo está há cinco meses trabalhando no hospital, período em que conseguiu aprender mais sobre as doenças oncológicas pediátricas no geral, mas também, especificamente, sobre a Leucemia. “O Hospital Infantil é referência no atendimento de crianças com câncer, sendo que pacientes de outros estados vêm realizar o tratamento aqui. Tem alguns aqui, que vieram da Bahia, por exemplo.”

A prática no hospital permitiu que os residentes aprendessem os principais sinais e sintomas da doença. “Esse tema não é aprofundado na faculdade, então, conseguimos ampliar essa percepção. Por exemplo, durante o nosso atendimento, vemos como pode demorar o diagnóstico da criança, principalmente na Leucemia, porque são sintomas, em sua maioria, comuns: febre, manchas no corpo, enjoo”, destacou a fisioterapeuta Luana Vidotto.

Apesar dos sentimentos ruins que são trazidos junto com o diagnóstico da doença, a equipe de residentes em Cuidados Paliativos tenta, ao máximo, reduzir a carga dos pais e da criança com atividades externas, brincadeiras e interação. Na unidade, há também o grupo de apoio aos pais, chamado Café com Cuidado.

“Ali, eles podem falar o que eles estão sentindo durante a internação e também conseguimos explicar como está sendo desenvolvido esse diagnóstico, além de falarmos muito sobre a possibilidade do óbito. Então, a partir dessas trocas até com outras famílias, eles conseguem ter um conforto”, contou a enfermeira, que faz parte da equipe de residentes, Patrícia Farias. 

 

Hospitais Especializados em Oncologia no Espírito Santo 

O tratamento oncológico no Espírito Santo conta com sete Unidades de Tratamento de Alta Complexidade em Onco-Hematologia (Unacon’s) e um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que se estão nos seguintes hospitais:

Hospital Santa Rita de Cássia (HSRC-Afecc): localiza-se em Vitória, é uma instituição filantrópica conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e é o único Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Espírito Santo;

Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória (HSCMV): localiza-se em Vitória, é uma instituição filantrópica conveniada ao SUS e classifica-se como Unacon;

Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam): localiza-se em Vitória, é o hospital universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), conveniado ao SUS e classifica-se como Unacon;

Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV): localiza-se em Vila Velha, é uma instituição filantrópica conveniada ao SUS e classifica-se como Unacon;

Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória (Hinsg): localiza-se em Vitória, é um hospital público estadual classificado como Unacon e é único serviço de pediatria oncológica no estado;

Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI): localiza-se em Cachoeiro de Itapemirim, é uma instituição filantrópica conveniada ao SUS e classifica-se como Unacon;

Hospital Maternidade São José (HMSJ): localiza-se em Colatina, é uma instituição filantrópica conveniada ao SUS e classifica-se como Unacon;

Hospital Rio Doce (HRD): localiza-se em Linhares, é uma instituição filantrópica conveniada ao SUS e classifica-se como Unacon.