Coronavírus é mais fatal com funcionários do que presos nas cadeias, A pandemia de coronavírus atinge de forma mais letal os trabalhadores do que os presos nas cadeias de São Paulo, conforme dados oficiais divulgados na quinta-feira (27).

Estatísticas da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) identificam taxa sete vezes maior de mortalidade pela doença entre os profissionais quando comparada à taxa de mortes de presos.

Segundo os números do governo, 27 agentes penitenciários morreram contaminados pela Covid-19. Ao todo, 1.341 profissionais deram resultado positivo de contaminação – em testes rápidos ou de PCR, esse mais aprofundado.

A proporção é uma morte a cada 49 casos positivos. Em relação aos 35.056 trabalhadores, a taxa de mortalidade é de 0,77 a cada mil pessoas.

Quanto aos presos, o estado de São Paulo registra 24 mortes causadas pela pandemia, ainda de acordo com os dados divulgados oficialmente pela SAP.

A quantidade de contaminações confirmadas é de 4.703 pessoas, com uma morte a cada 196 testes positivos de Covid-19. São quatro vezes mais casos para cada morte em comparação com os servidores.

Com base nos números da SAP, a taxa de mortalidade por coronavírus a cada mil presos é de 0,1. O estado possui a maior população carcerária do país, com 231.287 presos.

Fábio Jaba, presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), aponta para número maior de mortes, com 29 servidores vítimas do coronavírus.

A vítima mais recente foi o agente penitenciário Edson José da Rocha, de 51 anos, que atuava no CDP (Centro de Detenção Provisória) 2 de Osasco, na Grande São Paulo. Rocha, morto na quarta-feira (26), deixa mulher e dois filhos.

O sindicalista diz que os agentes penitenciários trabalham sobrecarregados durante a pandemia. “Falta EPI (Equipamento de Proteção Individual), não tem sido feita testagem das pessoas”, afirma.

Segundo ele, o afastamento de profissionais dentro do grupo de risco (mais de 60 anos ou portadores de doenças agravadas pela Covid-19) ampliou o déficit funcional. “Nossa categoria está em um esgotamento físico e psicológico”, resume.

Jabá diz que há transferências de presos durante o isolamento social. “O trânsito de presos entre as unidades aumentou”, diz.

Em março, o Ministério Público de São Paulo recomendou à SAP a suspensão ou limitação das transferências.

Na terça-feira (25), a Justiça de São Paulo determinou que o governo de João Doria (PSDB) adote medidas para evitar a contaminação por Covid-19 nos presídios. O prazo é de dez dias.

Entre as ações estão fornecimento de água 24 horas por dia, estoque de remédios e garantia de acesso à alimentação, além de campanhas sobre como se prevenir ao coronavírus.

Familiares denunciam as condições insalubres das cadeias desde março, quando a Justiça proibiu visitas aos presos. As reclamações envolvem racionamento de água, comida de má qualidade e falta de remédios.

Outra proibição é sobre o jumbo, sacola com comida, itens de higiene e remédios levada pelos parentes. A entrega presencial foi proibida para evitar a propagação do vírus.

Na sexta-feira (28), um grupo de familiares se reuniu em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para protestar. A principal reivindicação era a volta das visitas. O ato estava agendado desde quarta-feira (26), quando a SAP ampliou por mais um mês o período sem visitas.

Procurada pela reportagem, a SAP respondeu por meio de nota que a informação do Sifuspesp é “inverídica” sobre a quantidade de agentes mortos ser maior do que a divulgada oficialmente pela pasta.

A secretaria assegura que cumpre com todas as determinações impostas nesta semana pela Justiça.

Na nota, a SAP afirma que, graças às medidas, a primeira confirmação da doença nos presídios ocorreu apenas 48 dias após ser constatado o primeiro caso da doença em todo o estado.

A pasta ainda afirma que há 2.262 servidores integrantes do grupo de risco afastados dos trabalhos.

As informações são da FolhaPress