Irmãos são mortos a tiros por policiais em Pedro Canário

Na tentativa de prender um suspeito de violência doméstica, em Pedro Canário, dois soldados da Polícia Militar (PM) mataram o homem e o irmão dele, segundo boletim de ocorrência registrado pelos policiais.

Os PMs alegaram que foram agredidos e que, tanto o suspeito quanto o irmão dele, que tentou impedi-lo de ser preso, tentaram cada um tomar as armas dos militares. A família nega a versão do boletim de ocorrência, dizendo que os filhos foram mortos com tiros nas costas.

Irmãos são mortos a tiros por policiais em Pedro Canário

Foto: Cidade Pedro Canário

De acordo com a ocorrência, Luiz Carlos Raiz, de 35 anos, foi denunciado pela companheira, que o acusou

de agressão. Ela contou aos policiais que, após a agressão, ele teria fugido para a casa dos pais dele, em área rural. Os PMs seguiram para o local.

Na casa dos pais do suspeito, os policiais anunciaram a prisão e pediram que Luiz saísse da residência com as mãos na cabeça. Ainda consta na ocorrência que o suspeito reagiu à prisão, e que o irmão dele, Antônio Carlos Raiz, de 31 anos, também interferiu na tentativa de evitar que o irmão fosse preso.

Segundo o boletim, enquanto os policiais tentavam conter Luiz para levá-lo preso, ele e Antônio teriam agredido os policiais com socos e tentaram pegar a arma dos soldados, cada um em luta corporal com cada um dos policiais.

Os militares relataram na ocorrência que, para se defenderem das agressões que estavam sofrendo e impedir que os dois irmãos tomasse as armas deles, eles sacaram cada um sua arma e atiraram, atingindo Luiz e Antônio.

Os irmãos foram socorridos e levados para o Hospital Menino Jesus, no Centro de Pedro Canário, mas morreram ao dar entrada no local. Os policiais também foram atendidos pela equipe médica do hospital devido aos ferimentos sofridos durante a briga, mas precisaram ser transferidos para o Hospital Meridional, em Cariacica, devido à gravidade das lesões. Um dos PMs precisaria ser submetido a um procedimento cirúrgico na face.

“MEUS FILHOS FORAM MORTOS PELAS COSTAS”

Contrariando a versão do boletim de ocorrência, o pai de Luiz e Antônio, o aposentado Nilson Raiz, de 74 anos, que presenciou a morte dos filhos, alegou que os dois estavam correndo, de costas para os policiais, quando foram baleados.

“Chegaram (os policiais) na minha casa e deram voz de prisão para o Luiz, meu filho. Na hora, ele estava deitado no sofá da sala. Ele foi retirado de lá e levado para o camburão. O outro irmão dele, o Antônio, disse que ia junto. Ficou preocupado porque o Luiz tinha epilepsia. O policial não queria deixar o irmão ir junto”, conta Nilson.

Ainda de acordo com o aposentado, neste momento, Luiz conseguiu sair do carro da polícia. “Para não ser preso, Luiz saiu do camburão e começou a correr por uma estrada na direção de uma represa. O irmão correu atrás dele por achar que ele poderia se jogar na represa e morrer por causa do problema que ele tinha (epilepsia). Neste momento, os policiais atiraram nos dois pelas costas. Fui lamentar a morte dos meus filhos e também fui ameaçado por um dos policiais, que me apontou a arma. Meu neto é que me tirou dali”, revela Nilson

A Polícia Militar foi procurada pela reportagem do Gazeta Online para falar sobre a ocorrência e sobre a acusação da família contra os policiais, e a Polícia Civil foi procurada para falar da investigação sobre as duas mortes. Até o momento, a PM não retornou.

DELEGACIA DE PEDRO CANÁRIO VAI INVESTIGAR

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que “o caso seguirá sob investigação da Delegacia de Polícia de Pedro Canário. Os corpos dos suspeitos foram encaminhados para o Serviço Médico Legal (SML) de Linhares, para identificação e realização de exames para determinar a causa da morte”.

Na nota, a PC ainda afirma que “denúncias podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia 181 ou pelo disquedenuncia181.es.gov.br, onde é possível a pessoa anexar imagens e vídeos de ações criminosas. Não é preciso se identificar.”

CONFIRA NOTA DA POLÍCIA MILITAR NA ÍNTEGRA

“Na noite desse último sábado (10), a Polícia Militar foi acionada para verificar uma ocorrência de violência doméstica, em que uma mulher havia sido agredida por um homem, L. C. R, dentro de um mercado em Pedro Canário.

No local, a vítima informou aos policiais que o agressor tinha se evadido para a casa dos pais, no Assentamento Castro Alves. Na residência, os militares foram atendidos pelos pais do homem, que confirmaram a presença dele no local.

Foi, então, solicitado que L. C. R saísse da casa com as mãos na cabeça, para a devida abordagem, mas, agressivo, ao sair, o homem começou a resistir às ordens, sendo o fato inflamado pelo seu irmão A. C. R, que partiu para cima de um soldado, o empurrando. Neste momento o acusado aproveitou para empreender fuga, seguido do irmão.

Dois soldados saíram em acompanhamento aos indivíduos, enquanto um permaneceu em conversa com os pais dos homens, que estavam alterados.

Em dado momento, L. C. R foi alcançado por um dos soldados e imobilizado ao solo, mas o policial foi surpreendido pelo irmão dele com chutes e pontapés, entrando em luta corporal com o PM. Novamente L. C. R aproveitou o momento e partiu para cima do outro policial, agredindo-o, na tentativa de sacar sua arma. Em luta, o PM realizou dois disparos, no intuito de cessar a agressão, sendo L. C. R atingido.

Já o outro soldado, em luta com A. C. R, caiu ao chão e continuou sendo agredido no rosto com chutes. Vendo que o homem tentava desacorda-lo, o PM que era agredido também efetuou disparos, mas não soube precisar se o homem foi atingido por ele, pois o indivíduo continuou o agredindo, momento em que o soldado que havia baleado L. C. R se levantou do chão e visualizou o companheiro em risco iminente, sofrendo fortes agressões, e, também, baleou A. C. R.

Logo, o terceiro policial chegou ao local e ajudou os militares, acionando o socorro. Os homens foram atendidos e encaminhados ao Hospital Menino Jesus, onde, na sequência, tiveram o óbito constatado. Os policias também foram atendidos no hospital e, posteriormente, encaminhados a uma unidade particular, visto que um deles precisaria passar por cirurgias na face, devido à gravidade das lesões.

A mulher agredida por L. C. R informou, ainda, que o homem a agrediu dentro do banheiro do mercado, com socos e tapas no rosto e quando ele tentou forçar sua cabeça contra o vaso sanitário, foi impedido por populares, evadindo-se do local.

Como procedimento comum, as armas do policiais foram recolhidas. A ocorrência, foi encaminhada à Delegacia Regional de Pedro Canário, para devida apuração dos fatos e será acompanhada pela Corregedoria da PM.”

Gazetaonline

Leia mais notícias da cidade de  Pedro Canário