Médicos repudiam declaração de Manato de que “pandemia foi uma farsa”.

Médicos repudiam declaração de Manato de que “pandemia foi uma farsa”. Um grupo de médicos do Espírito Santo divulgou, nesta sexta-feira (28), uma carta aberta à população com críticas à declaração do candidato ao Governo do Estado Carlos Manato (PL). Durante debate da TV Gazeta com o governador Renato Casagrande (PSB), que disputa a reeleição, ele classificou a pandemia causada pela covid como uma farsa.

A Carta, que está sendo compartilhada pelas redes sociais, tem a assinatura de mais de 30 médicos.

No texto, eles afirmam que muitos estiveram na linha de frente ou lidaram com casos de luta para salvar vidas durante a pandemia, inclusive, com perdas de parentes, amigos e colegas para a doença.

“A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença”, diz parte da carta.

Entre os médicos que assinaram o manifesto está o cardiologista José Aid Sad. Segundo ele, durante o debate, Manato fez comentários totalmente inverídicos em relação a pandemia que levou à morte cerca de 17 mil capixabas.

“Ele fez acusações infundadas aos médicos que atuaram na linha de frente dos hospitais e Unidades de Saúde, inclusive com acusações de fraudarem o preenchimento dos atestados de óbitos de paciente com outras enfermidades por Covid”.

Sad disse ainda que Manato deixou claro a sua negação da pandemia, inclusive enaltecendo tratamentos sem nenhuma evidência científica.

“A classe médica  repudia veementemente a sua fala e a falta de respeito aos seus colegas de profissão, assim como aos familiares de todos que perderam seus entes queridos”.

O abaixo-assinado virtual contra as declarações de Manato também foi iniciado pela categoria. Até o início da noite desta sexta-feira já existiam quase 800 assinaturas. Quem teve a iniciativa foi o médico sanitarista Geraldo Corrêa Queiroz.

Ele afirma que o sentimento da categoria, não só no Espírito Santo, mas também no Brasil, é de indignação. “Nossa honra foi ofendida na medida em que ele disse que falsificamos atestado de óbito para aumentar artificialmente o número de mortes”.

E prosseguiu: “Ele nos qualificou quase como bandidos, como falsificadores de documentos. Jamais um médico pode fazer isso até porque essas informações são essenciais para salvar outras vidas”, explicou.

Queiroz disse que na próxima semana, a categoria deve entrar com uma ação judicial contra Manato pelas declarações contra os profissionais.

“Apesar de ser médico, ele não se comportou como médico. Se comportou como um ser humano difícil de encontrar alguma qualificação. Ele não teve empatia com as famílias que perderam pais, mães, filhos, avós”, finalizou.

A reportagem do Portal ES 360 procurou a assessoria de imprensa do candidato Manato para que ele pudesse comentar a posição dos médicos, mas ainda não obtivemos retorno. Nas redes sociais, no entanto, Manato disse que sua fala está sendo distorcida.

“Eu disse e repito: A gestão da pandemia no Espírito Santo foi uma farsa. Inventaram números e inflaram estatística. Se não fosse nosso presidente Jair Bolsonaro tomar as rédeas da crise, muitos mais teriam morrido ante a incompetência desse Governo”.

Leia a carta na íntegra:

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

Nós médicas e médicos abaixo assinados, que assistimos ao debate com os candidatos ao governo do estado, vimos manifestar nosso repúdio e indignação com as declarações do candidato Manato.

A maioria de nós esteve à frente ou lidou com casos na luta para salvar vidas durante a pandemia de Covid 19. Perdemos parentes, amigos e colegas para a doença, nesse enfrentamento.   

Tivemos ao nosso lado  o conhecimento médico que pusemos à disposição dos pacientes, sem nos aventurar ao uso de tratamentos sem comprovação científica.

A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato, em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença.

Fomos acusados, durante o debate de ontem, na TVGazeta, de forma leviana, pelo senhor Manato de termos falsificado atestados de óbito para aumentar de forma artificial o número de mortes pela Covid 19.

Nós, médicos, não falsificamos documentos. Juramos salvar vidas e aliviar a dor e o sofrimento. Nosso pacto é com a vida. A informação médica segura e correta sobre eventos clínicos ou sobre desfechos fatais é absolutamente necessária para as eventuais providências no campo da saúde pública. Essas informações podem e salvam muitas vidas.

Atingidos em nossa dignidade, iremos ingressar na justiça para que o candidato prove as acusações que fez sobre a classe médica.

Fonte: https://es360.com.br/